Salvador aposta em ônibus maiores no BRT, mas continua errando no tamanho da solução

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Por Emerson Pereira – Foto Augusto Ferraz/Ônibus Brasil

Apesar da recente reformulação na frota do BRT de Salvador, a promessa de um sistema de transporte coletivo de alta capacidade segue distante da realidade. Recentemente os operadores do BRT finalizaram a incorporação de novos ônibus, elevando para cerca de 100 o total de veículos disponíveis para sua operação. A novidade? Metade dessa frota agora é composta por modelos trucados, com 15 metros de comprimento e três eixos. A má notícia: eles ainda não são suficientes para atender como se espera de um sistema BRT de verdade.

Além dos trucados, a frota atual inclui 8 ônibus elétricos de 12,5 metros, 40 convencionais com 13,2 metros e apenas 2 articulados de 18 metros — justamente o tipo de veículo que mais se adequa ao conceito de Bus Rapid Transit, por oferecer maior capacidade de transporte e agilidade nos corredores exclusivos.

Os ônibus trucados são, de fato, um avanço técnico em relação aos convencionais. Com maior capacidade e estrutura reforçada, eles acomodam mais passageiros e oferecem alguma eficiência a mais na operação. No entanto, continuam sendo uma solução intermediária. A ausência de mais articulados — ônibus com dois compartimentos e capacidade até 40% maior que os trucados — compromete a lógica do sistema e impõe limites severos à fluidez e ao conforto dos usuários do modal.

A decisão de priorizar veículos trucados em vez de articulados escancara uma contradição: o BRT de Salvador carrega o nome de um sistema de alta capacidade, mas segue sendo operado como se fosse apenas mais um corredor de ônibus comum. Ao evitar os articulados, a gestão opta por um caminho aparentemente mais simples e barato, mas que não resolve o problema estrutural da lotação e da demanda crescente por transporte rápido e eficiente.

Com a previsão de expansão do sistema até o Aeroporto, a frota atual pode se tornar ainda mais insuficiente. Sem uma revisão séria sobre o tipo e a quantidade de veículos adequados para esse formato de transporte, o BRT corre o risco de não passar de uma boa ideia mal executada — mais uma vez.

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