Por Emerson Pereira – Foto Eracy Lafuente/CTB
Recentemente, o governador da Bahia surpreendeu ao citar a possibilidade de construir um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) ligando Salvador à cidade de Alagoinhas, a cerca de 120 km de distância. A proposta chamou atenção, mas ao mesmo tempo levantou duvidas — e com razão.
Enquanto se fala em ligar duas cidades por VLT, o governo do estado ainda não conseguiu concluir um projeto muito menor, dentro da própria capital. O VLT do Subúrbio, que tem 36 km de extensão, prometido desde 2018, teve obras iniciadas em 2020 e até hoje não foi entregue. O que deveria ser uma solução moderna para o transporte na região do Subúrbio virou um símbolo de promessas não cumpridas.
Falar agora em um VLT intermunicipal parece esquecer a natureza desse tipo de modal. O VLT é ideal para trechos curtos, urbanos, com muitas paradas e velocidade reduzida. Não é projetado para percursos de 100 km ou mais. Aliás, é quase impossível encontrar no mundo um VLT com esse tipo de extensão. Grandes centros urbanos como Paris ou Berlim, quando precisam ligar cidades vizinhas, optam por trens, não por VLTs.
Além disso, a ideia ressuscita memórias da antiga linha de trem Salvador–Alagoinhas, desativada em etapas por governos passados. Esse trecho da Estrada de Ferro Central da Bahia funcionou por décadas e poderia, com investimentos sérios, ser reativado com tecnologia apropriada e infraestrutura já existente.
A verdade é que, enquanto o VLT do Subúrbio segue atrasado e a confiança na entrega de grandes obras de mobilidade diminui, anunciar um VLT de 120 km soa mais como um discurso para manchete do que como um plano real. E é exatamente por isso que, no fundo, o tal VLT até Alagoinhas provavelmente nunca sairá do papel.