As passagens mais caras do Brasil e o peso diário do transporte público no bolso do cidadão

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Por Emerson Pereira – Foto Danilo Verpa/Folhapress

O valor da passagem de ônibus continua sendo um dos principais pontos de insatisfação entre os usuários do transporte público no Brasil. Em meio a um cenário de serviços precários, longas esperas e veículos superlotados, o custo diário de se deslocar pela cidade pesa cada vez mais no orçamento das famílias — especialmente nas capitais com tarifas mais altas do país.

De acordo com um levantamento nacional, Florianópolis lidera o ranking com a tarifa mais cara do Brasil: R$ 6,90. Em seguida aparecem Curitiba e Porto Velho, ambas com R$ 6,00, e Belo Horizonte, onde o bilhete custa R$ 5,75. Salvador ocupa o quinto lugar, com R$ 5,60, seguida de Brasília (R$ 5,50).
Chama atenção o fato de São Paulo, a maior e mais rica cidade do país, estar apenas na oitava posição, com tarifa de R$ 5,00. Já o Rio de Janeiro, segunda maior capital brasileira, aparece em décimo sexto lugar, cobrando R$ 4,70.

Apesar dos números, a comparação direta entre as tarifas revela nuances importantes sobre os modelos de operação. Em Salvador, por exemplo, o valor de R$ 5,60 inclui um sistema intermodal integrado, que permite ao passageiro utilizar ônibus, metrô e BRT com apenas uma passagem. Já em São Paulo, os R$ 5,00 se aplicam apenas ao ônibus municipal — quem utiliza também o trem ou o metrô precisa pagar uma tarifa adicional, o que pode dobrar o custo do deslocamento diário.

A diferença de modelo explica parte do valor mais alto em capitais como Salvador, mas não reduz o descontentamento dos usuários, que reclamam da falta de conforto, atrasos e pouca regularidade nas linhas. Em cidades menores, o problema é ainda mais grave: tarifas elevadas sem integração, frota reduzida e baixa frequência fazem com que o transporte público seja visto mais como um “mal necessário” do que como um direito essencial à mobilidade.

Enquanto isso, algumas administrações municipais tentam avançar na discussão sobre a tarifa zero, que eliminaria o custo direto para o passageiro. No entanto, o modelo ainda enfrenta grandes desafios financeiros e depende de fontes orçamentárias estáveis para se manter. Em Belo Horizonte, por exemplo, o peso do transporte nos cofres públicos tem crescido de forma expressiva: em 2024, a prefeitura desembolsou R$ 744,7 milhões para custear o sistema. Em 2025, o valor saltou para R$ 1,02 bilhão, e o projeto de Orçamento 2026, ainda em tramitação, prevê R$ 1,7 bilhão — um aumento de R$ 680 milhões, ou 66,6%. O gasto com o transporte é, inclusive, o principal responsável pelo déficit previsto no orçamento municipal para o próximo ano, superando até as áreas da saúde (R$ 500 milhões) e da educação (R$ 300 milhões).

Esses números ajudam a explicar por que a maior cidade brasileira a conseguir manter o modelo de tarifa zero atualmente não tem nem 500 mil habitantes. Nas grandes capitais, a complexidade operacional e o alto volume de viagens diárias tornam a gratuidade um desafio ainda distante da realidade.

O quadro geral evidencia um dilema que se repete em todo o país: o transporte público é essencial, mas cada vez mais caro e deficitário. E enquanto o custo recai sobre o bolso do passageiro, a qualidade do serviço segue distante das expectativas de quem depende do ônibus todos os dias para estudar, trabalhar ou simplesmente circular pela cidade.

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