Por Emerson Pereira – Foto Reprodução SóMob
Enquanto as classes de menor renda enfrentam a exclusão cada vez maior do transporte público, a classe média migra para o transporte individual. O cenário, que se repete em várias capitais do país, expõe o peso das tarifas sobre o orçamento das famílias e a desigualdade no acesso à mobilidade urbana.
De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, em Belo Horizonte o gasto com passagens de ônibus pode chegar a 20% da renda mensal das famílias mais pobres. Mesmo com tamanha representatividade no orçamento, essas pessoas realizam, em média, menos de dez viagens por mês. O dado revela uma contradição: quem mais precisa do transporte coletivo é justamente quem menos consegue utilizá-lo.
Em Salvador, a realidade é ainda mais preocupante. A capital baiana, que está entre as cidades com menor renda per capita do país, possui uma das tarifas mais caras do Brasil — R$ 5,60 por viagem. O contraste entre a renda média da população e o valor cobrado pelo transporte evidencia uma desigualdade estrutural que afasta os mais pobres do sistema e sobrecarrega o custo de deslocamento urbano.
Um estudo desenvolvido por economistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) reforça a importância de repensar o modelo de financiamento do transporte público. Segundo a pesquisa, a adoção da Tarifa Zero — que garante gratuidade nas viagens — poderia liberar até 20% do orçamento mensal das famílias de baixa renda, resultando em um impacto econômico positivo. Para cada R$ 1,00 investido na medida, o retorno estimado seria de R$ 3,89 para a economia local, impulsionado pelo aumento da circulação de pessoas e pelo fortalecimento do comércio e dos serviços urbanos.
O debate sobre a Tarifa Zero ganha força em meio à crise de sustentabilidade do transporte coletivo e à necessidade de tornar as cidades mais inclusivas. A equação, no entanto, ainda depende de vontade política e de um novo pacto social sobre quem deve financiar o direito de ir e vir.





