Por Emerson Pereira – Foto Divulgação Prefeitura de Camaçari
Camaçari deu início nesta terça-feira (17) à operação emergencial do transporte público urbano, após meses de paralisação do sistema que deixou milhares de moradores sem atendimento adequado. A retomada, conduzida por meio de contrato emergencial firmado com a empresa Atlântico Transportes, marca uma tentativa da prefeitura de normalizar a mobilidade no município. No entanto, a volta dos ônibus às ruas reaqueceu um debate adormecido: o contraste entre o serviço entregue e as promessas feitas pelo prefeito Luiz Caetano durante a campanha eleitoral.

A nova operação contempla 45 ônibus com ar-condicionado, Wi-Fi gratuito e acessibilidade para pessoas com deficiência. Esses veículos irão circular por 28 linhas, ligando a sede da cidade à orla e outras regiões, totalizando 47 bairros atendidos. A medida é considerada paliativa e terá duração de 180 dias, até que a gestão municipal conclua a licitação para a concessão definitiva do sistema de transporte.

Apesar de representar um avanço técnico em comparação ao cenário anterior — marcado por sucateamento e interrupções —, o modelo emergencial ainda está distante do que foi prometido pela atual gestão. Durante a campanha eleitoral de 2020, Luiz Caetano apresentou como compromisso uma frota 100% elétrica e o estabelecimento da tarifa zero para os usuários do transporte público. Essas propostas foram resgatadas por internautas nas redes sociais logo após o anúncio da retomada emergencial, com críticas à ausência de prazos e à falta de transparência sobre a viabilidade desses projetos.
Crise estrutural e histórico de descontinuidade
A situação do transporte em Camaçari é resultado de anos de instabilidade administrativa e falta de planejamento. O sistema “Vai Camaçari”, implantado na gestão anterior, não resistiu por muito tempo e foi descontinuado sem deixar um legado sólido. Desde então, a cidade passou a conviver com a ausência de uma operação formalizada e com o uso recorrente de contratos temporários, que pouco contribuíram para garantir segurança jurídica, qualidade do serviço e continuidade da circulação dos ônibus na cidade.
Mesmo com uma grande arrecadação, em grande parte oriunda do Polo Industrial, Camaçari ainda não conseguiu estruturar uma política pública eficiente e duradoura para a mobilidade urbana. O novo contrato emergencial, de valor estimado em R\$ 13,3 milhões, não detalha diretrizes claras sobre integração tarifária, bilhetagem eletrônica, nem sobre metas de expansão ou renovação tecnológica.
Promessas pressionam governo
A expectativa criada pelas promessas de campanha de Luiz Caetano está entre os principais fatores de cobrança da sociedade civil neste momento. A proposta de tarifa zero — que implicaria em subsídio integral por parte do município — e a introdução de ônibus elétricos exigiriam um nível de planejamento orçamentário, logístico e ambiental que ainda não foi apresentado de forma estruturada pela administração municipal.
Na ausência de informações concretas, parte da população tem demonstrado ceticismo. Para muitos moradores, a volta dos ônibus é um alívio diante do caos recente, mas o contrato emergencial está longe de sinalizar uma transformação duradoura na mobilidade local.
Licitação definitiva: o próximo teste
A gestão municipal informou que trabalha na finalização do edital para concessão definitiva do transporte coletivo, mas ainda não divulgou prazo para sua publicação ou início do processo licitatório. A efetivação desse processo será determinante para o futuro da mobilidade em Camaçari. Será nessa nova licitação que se definirá, por exemplo, se os compromissos com a sustentabilidade — como a adoção de ônibus elétricos — serão incorporados ao modelo, ou se permanecerão no campo do discurso.
Até lá, a operação emergencial representa um alívio momentâneo, mas também um lembrete dos desafios que a cidade enfrenta para consolidar um sistema de transporte eficiente, acessível e sustentável.