Por Emerson Pereira – Fotos Marcelo de Troi
Entre agosto e setembro de 2003, Salvador viveu dias de paralisação e efervescência social com a chamada Revolta do Buzu, movimento estudantil que nasceu de forma independente e marcou a memória da capital baiana. O estopim foi o reajuste da tarifa de ônibus de R$ 1,30 para R$ 1,50, autorizado pela gestão municipal do então prefeito Antônio Imbassahy.
A mobilização teve início no Instituto Central de Educação Isaías Alves (Iceia), quando um grupo de aproximadamente 200 estudantes decidiu sair às ruas para protestar. Rapidamente, o movimento se espalhou para outras escolas do centro da cidade e universidades, o movimento teve repercussão nacional.

Sem redes sociais como hoje, a comunicação se fazia em panfletos, cartazes e no boca a boca, mas isso não impediu que milhares de jovens tomassem as principais avenidas de Salvador. O trânsito parou, e com ele a rotina da cidade. A resposta do poder público foi imediata: a Polícia Militar entrou em confronto com os estudantes em diversas ocasiões, numa tentativa de conter as manifestações que insistiam em ocupar ruas e praças.
Entre aqueles milhares de jovens participando da mobilização estava o criador do SóMob, Emerson Pereira, que na época era um jovem estudante do Iceia e participou ativamente dos protestos, acompanhando de perto cada passeata, manifestação e a força coletiva que se formava naquele momento.
O movimento deixou marcas. Além da repercussão política, houve conquistas concretas, como a ampliação da meia-passagem para os finais de semana, resultado da pressão direta da juventude sobre o poder público. Um outro efeito, menos celebrado, foi a mudança na estratégia da Prefeitura: dali em diante, os reajustes da tarifa de ônibus passaram a ser anunciados, em sua maioria, durante os períodos de férias estudantis — uma tentativa de evitar nova onda de protestos.
Mais de duas décadas depois, a Revolta do Buzu ainda ecoa na memória da cidade como símbolo de resistência, coragem e capacidade de mobilização da juventude soteropolitana. Foi um movimento que misturou indignação e esperança e deixou como lição que, quando a voz coletiva se levanta, a cidade precisa ouvir.