Por Emerson Pereira – Foto Emerson Pereira
Apesar de ser uma das regiões mais populosas e extensas de Salvador, Cajazeiras segue enfrentando graves limitações em sua oferta de transporte público. Mesmo com a chegada do metrô ao bairro de Águas Claras, a sensação predominante entre os moradores é de que a mobilidade na região tem piorado – e não melhorado, como seria de se esperar.
Bairros grandes, cobertura pequena
Em uma região tão extensa quanto Cajazeiras, era de se esperar que a cobertura do transporte coletivo fosse ampla e descentralizada. Mas a realidade é bem diferente. Apenas Cajazeiras 11 e Boca da Mata contam com linhas troncais com frequência razoável, oferecendo algum nível de conectividade direta com outros pontos da cidade. Cajazeiras 8, por sua vez, é o ponto fora da curva: o bairro dispõe de uma linha alimentadora com boa frequência e, desde 2022, passou a contar com uma linha direta com destino à Estação Mussurunga.
Nos demais bairros, a situação é crítica. Cajazeiras 5, por exemplo, ainda carece de uma linha que percorra o bairro em sua totalidade. Já nas áreas de Fazenda Grande 2, 3, 4 e Cajazeiras 6 e 7 os moradores convivem com longos intervalos entre os ônibus, o que torna a espera desgastante e reduz a confiabilidade das linhas.
Demanda concentrada, rede limitada
Outro agravante está na forma como a operação do transporte coletivo é estruturada. Grande parte da demanda da região é concentrada em poucos terminais, como o de Águas Claras, Mussurunga e uma linha em Pirajá. Isso força os passageiros a fazerem baldeações obrigatórias ou enfrentarem lotações em horários de pico, sem muitas alternativas diretas para outras áreas da cidade.
O contraste com outras regiões da capital, como o Cabula, chama atenção. Mesmo com características geográficas e populacionais similares, o Cabula conta com uma rede de linhas mais abrangente, que oferece conexões mais diretas e uma frequência de ônibus geralmente mais equilibrada.
O metrô chegou, mas a mobilidade emperrou
Desde a inauguração da Estação Águas Claras do metrô, esperava-se uma reorganização inteligente da malha de ônibus da região, integrando de fato os dois modais e ampliando o alcance do transporte de massa. Mas até o momento, a chegada do metrô parece ter servido mais como um ponto final do que como um novo começo.
A ausência de ajustes estratégicos por parte da Secretaria de Mobilidade (Semob) e dos operadores do sistema Integra tem impedido avanços reais. Melhorar o transporte em Cajazeiras vai exigir mais do que ações habituais ou reforço pontual de frota: é necessário redesenhar rotas, revisar intervalos, descentralizar terminais e ouvir quem mais entende da rotina local – o passageiro.
Enquanto isso não acontece, uma das maiores regiões de Salvador segue sendo também uma das mais mal servidas em termos de mobilidade urbana. E para quem depende do transporte público todos os dias, o tamanho do bairro contrasta com a pequenez das opções de deslocamento.