Para a professora Flávia Consoni, da Unicamp, o Brasil pode se inspirar em exemplos internacionais de mobilidade elétrica, mas reproduzi-los diretamente por aqui ainda é um grande desafio. Coordenadora do livro “As cidades como protagonistas – políticas públicas de transição para a mobilidade elétrica”, lançado pela Editora Papagaio, ela destaca a importância de políticas públicas bem estruturadas e integradas para acelerar a descarbonização do transporte no país.
Fruto de cinco anos de pesquisa apoiada pela Aneel e pela CPFL, a obra analisa estratégias de 30 cidades ao redor do mundo — como Oslo, Berlim, Nova York, Shenzhen, Bogotá e Santiago — que vêm liderando a transição para veículos elétricos. Entre as experiências citadas, estão compras coletivas nos EUA para reduzir custos, a proibição de veículos a combustão no centro de Bruxelas e a eletrificação total da frota de ônibus em Shenzhen, na China, que envolveu a população no processo.
Consoni destaca que, no Brasil, ainda há entraves significativos, como a falta de integração entre os setores envolvidos, gargalos de infraestrutura elétrica nas garagens e escassez de profissionais qualificados. Ela cita como exemplo positivo a cidade de São José dos Campos (SP), que foi pioneira ao investir em veículos elétricos para sua Guarda Civil e aprovar uma lei voltada à mobilidade elétrica.
Segundo a professora, a transição energética precisa de liderança governamental clara, formação técnica e planejamento. Para ajudar municípios, a Unicamp criou o curso “Políticas públicas para a promoção de mobilidade elétrica em cidades”, que já despertou interesse em estados como Rio Grande do Norte, Piauí e Ceará. Apesar dos custos iniciais altos, Consoni acredita que a eletrificação tende a se manter nos planos das cidades por seus benefícios econômicos e ambientais.
Ela também aponta que, embora o hidrogênio tenha potencial, sua aplicação em larga escala ainda é distante por causa do custo e da complexidade da infraestrutura. Já sobre o fornecimento de energia, defende que o risco não está na escassez, mas na falta de planejamento adequado para conectar a rede elétrica — especialmente nas garagens de ônibus. A energia solar surge como alternativa estratégica. Para evitar que dúvidas travem os avanços, iniciativas como o projeto Acoplare, parceria entre Brasil e Alemanha, buscam integrar esforços entre os setores de transporte, energia e indústria rumo à descarbonização.
Com informações do Estadão Mobilidade