Entre a economia e a perda de linhas: os impactos da integração em Salvador

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Por Emerson Pereira – Foto Divulgação CCR Metrô

A integração intermodal em Salvador foi anunciada como um avanço para o transporte público, prometendo praticidade e economia ao permitir o uso de ônibus, metrô e até o BRT com o pagamento de uma única tarifa. Mas, ao longo dos anos, o modelo que nasceu como símbolo de modernização também se tornou sinônimo de redução de opções para os usuários — especialmente após a reestruturação do sistema de ônibus.

Desde que o governo do Estado da Bahia assumiu as obras e a operação do metrô, ficou definido que o novo sistema seria complementar e não concorrente ao transporte por ônibus. Essa decisão teve efeito direto sobre a malha municipal: linhas que ligavam bairros diretamente ao centro, sobretudo à Estação da Lapa, foram extintas ou encurtadas, e o mesmo aconteceu com os trajetos que vinham da Avenida Paralela em direção ao Iguatemi, substituídos pela Linha 2 do metrô.

Com o avanço da operação metroviária, centenas de linhas foram desativadas na chamada “reestruturação do sistema”. Embora muitos atribuam essas mudanças à Prefeitura, o governo do Estado teve papel central nesse processo, atuando de forma firme para eliminar qualquer linha de ônibus considerada “concorrente” dos trens. Por meio dos contratos de concessão e da gestão do metrô, o Estado passou a determinar limites claros para o funcionamento dos coletivos, o que acabou restringindo a autonomia do sistema municipal.

Do ponto de vista financeiro, a integração trouxe benefícios: o passageiro pode usar diferentes modais pagando apenas uma passagem, o que representa economia frente a outros modelos de transporte. No entanto, essa vantagem tarifária veio acompanhada de uma perda significativa de conectividade direta entre os bairros e o centro, forçando muitos usuários a depender das estações de integração e a realizar mais baldeações no trajeto diário.

Em cidades como São Paulo, o cenário é diferente. Lá, o passageiro paga uma nova tarifa ao trocar de modal — por exemplo, do ônibus para o metrô —, o que eleva o custo da viagem. Por outro lado, não há restrição de linhas que operam nos mesmos eixos, permitindo que o usuário escolha entre diferentes alternativas de deslocamento.

Em Salvador, a integração intermodal representa um avanço na teoria, mas na prática ainda levanta questionamentos sobre seu custo real para o usuário. Entre a economia de uma tarifa única e a perda de trajetos diretos, o sistema da capital baiana revela um dilema: como integrar sem limitar, e como economizar sem reduzir a mobilidade de quem mais depende do transporte público.

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