Indefinição, desperdício e atraso: a condução política que travou o VLT do Subúrbio

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Por Emerson Pereira – Foto Divulgação

A implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) do Subúrbio, anunciada pelo Governo da Bahia como solução para modernizar o transporte ferroviário entre Salvador e a Ilha de São João, tornou-se um dos mais emblemáticos casos de indefinição política e desperdício de recursos públicos da última década. A proposta, apresentada ainda em 2018, previa — na prática — um monotrilho elevado, com estrutura de grandes pilares à beira-mar, capacidade projetada para 150 mil passageiros por dia e investimento inicial de R$ 2 bilhões. A ordem de serviço foi assinada em 2019, com a promessa de conclusão em 24 meses. Nada saiu do papel.

Logo após o início das obras, o projeto revelou fragilidades técnicas e conceituais. Urbanistas, especialistas em mobilidade, ambientalistas e moradores do Subúrbio Ferroviário questionaram a adequação do monotrilho ao território, especialmente pelo impacto visual e urbanístico causado pela estrutura elevada ao longo da orla. Mesmo assim, o governo manteve a previsão de inauguração para 2021.

Foi também em 2021 que o trem do Subúrbio — um serviço centenário e essencial para milhares de moradores — foi desativado sob a justificativa de avanço nas obras do monotrilho. A população ficou sem seu principal meio de transporte e sem alternativas de qualidade, à espera de melhorias que não vieram. Enquanto isso, recursos públicos continuaram sendo empregados em estudos, adaptações e intervenções iniciais de uma infraestrutura que seria abandonada pouco tempo depois.

Envolvido em controvérsias técnicas e pressionado pelo aumento dos custos, o Governo do Estado desistiu do monotrilho. Após gastar milhões sem que o projeto de fato evoluísse, uma nova proposta foi apresentada apenas em 2023: um VLT de verdade, em nível e mais compatível com o território, incluindo três linhas entre a Calçada e a Ilha de São João, de Paripe a Águas Claras e de Águas Claras até Piatã.

O caso do VLT não é isolado. A Ponte Salvador–Itaparica, prometida inicialmente para 2013, acumulou estudos, modelagens e anúncios oficiais ao longo de mais de uma década, consumindo recursos públicos sem que qualquer pilar fosse erguido. Assim como no VLT, decisões políticas equivocadas e sucessivas mudanças de rumo transformaram a promessa em mais um símbolo de desperdício e indefinição.

A reviravolta no projeto ferroviário amplia ainda mais o hiato deixado pela desativação do trem. A gestão estadual, que inicialmente prometia entregar o sistema em 2021, agora projeta que a nova rede de VLT só estará concluída em 2028 — sete anos depois da paralisação do transporte ferroviário e quase uma década após as primeiras obras do monotrilho.

A condução política do projeto expôs a falta de planejamento, os erros de escolha tecnológica e a ausência de transparência na tomada de decisões. O resultado é um atraso que compromete a mobilidade de toda a cidade e impacta diretamente a vida dos moradores do Subúrbio, que perderam um serviço histórico em troca de promessas sucessivamente postergadas. O VLT, que deveria simbolizar modernização, tornou-se um retrato da ingerência e das decisões equivocadas que custaram caro ao dinheiro público — e ainda mais ao cotidiano de quem depende de transporte para viver.

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