Por Emerson Pereira – Foto Divulgação PMS
A Prefeitura de Salvador garantiu recentemente autorização para contratar um empréstimo de R$ 95 milhões destinado à renovação da frota do Subsistema de Transporte Especial Complementar (STEC) — conhecido popularmente como “Topics”. A medida é bem-vinda, sobretudo considerando que cerca de 90% dos veículos atuais foram fabricados em 2014, o que já compromete a qualidade, a segurança e a confiabilidade do serviço.
Entretanto, mais do que apenas trocar veículos, o verdadeiro desafio da gestão municipal é redefinir o papel do STEC dentro da rede de mobilidade da cidade. Criado para atuar de forma complementar ao sistema convencional, o subsistema tem operado, em muitos casos, como concorrente direto do Integra Salvador, com linhas sobrepostas e itinerários redundantes. Essa sobreposição acaba enfraquecendo o equilíbrio do sistema e desviando o STEC de seu propósito original: oferecer transporte onde o sistema principal não chega de forma eficiente.
Um exemplo positivo recente veio nesta quarta-feira (7), quando a Secretaria de Mobilidade (Semob) transformou a linha 511, que agora opera como Boca da Mata x Vale dos Lagos, passando pelas principais vias de Castelo Branco, Pau da Lima e São Marcos. A mudança segue o verdadeiro propósito do subsistema, conectando bairros importantes e levando transporte a áreas que não contam com forte presença do Integra.
Por ter um custo operacional mais baixo, o STEC pode ser uma ferramenta estratégica para levar transporte público de qualidade a quem mais precisa. Esse custo reduzido se explica pelo uso de veículos menores e mais econômicos, pela ausência de cobrador e pela possibilidade de acesso a vias estreitas e localidades onde os ônibus maiores não conseguem circular.
Com planejamento, o STEC pode ganhar um papel essencial na ampliação da cobertura do transporte coletivo. Linhas interbairros, por exemplo, poderiam oferecer conexões diretas entre regiões periféricas, como uma Pernambués x Tancredo Neves, passando pelo eixo do Cabula, ou uma Cajazeiras 8 x Boca do Rio, seguindo pela Estrada do Coqueiro Grande, Avenida 29 de Março, Avenida Orlando Gomes e orla — itinerários hipotéticos que mostram o potencial de atuação do sistema.
Mais do que modernizar a frota, Salvador precisa repensar a lógica de operação do STEC. O subsistema não deve ser um competidor do Integra, e sim um complemento estratégico, capaz de expandir o acesso, reduzir custos e tornar o transporte público mais eficiente, inclusivo e próximo das necessidades reais da população.