Fim do Consórcio Salvador Norte: uma crise anunciada que redefiniu o transporte em Salvador

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Por Emerson Pereira – Foto Gustavo Santos Lima

O dia 30 de setembro de 2021 marcou o fim do Consórcio Salvador Norte (CSN), responsável por atender a orla, o centro e a região norte da capital baiana. Criado em 2015 pelas empresas BTU – Bahia Transporte Urbano, Ondina/Central, Rio Vermelho e Verdemar, o grupo nasceu de uma rearticulação das antigas viações ligadas à Vibemsa, tradicional operadora do sistema de ônibus de Salvador.

A trajetória do CSN, entretanto, foi marcada por turbulências desde 2018, quando um incêndio de grandes proporções destruiu ao menos 62 veículos na garagem da antiga BTU. O episódio provocou um abalo financeiro irreversível. A ausência repentina de dezenas de ônibus comprometeu a operação diária e dificultou a renovação da frota, acentuando a crise de credibilidade do consórcio junto ao poder público e aos passageiros.

Foto Reprodução

Em 2020, já pressionado, o CSN tentou recuperar espaço ao alugar 122 ônibus zero quilômetro. A iniciativa, porém, esbarrou em entraves jurídicos e na inviabilidade econômica imposta pela pandemia, que derrubou a demanda do transporte coletivo. O contrato foi desfeito sem os ônibus entrarem em operação e, ainda naquele ano, a Prefeitura decretou intervenção na concessionária para evitar um colapso total do serviço.

Foto Ícaro Chagas

A ruptura definitiva veio em junho de 2021, quando a gestão municipal rescindiu o contrato com o consórcio e assumiu de forma direta a operação da chamada “Bacia C”. Restava, então, decidir o destino das linhas, que foram redistribuídas entre os consórcios OT Trans e Plataforma. Para suprir a frota, foi necessária uma medida emergencial: a compra de 150 ônibus usados, fabricados em 2013 e desativados em Brasília devido às regras locais de idade máxima dos veículos.

Embora se cogitasse uma nova licitação para a área Orla/Centro, com possíveis interessados como a Viação Pioneira e a empresa Atlântico, o processo não avançou. Desde então, a Bacia C segue sem um contrato definitivo, revelando um vazio jurídico e operacional que ainda impacta o sistema.

A história do CSN se encerra de forma melancólica, em contraste com a trajetória de suas empresas fundadoras, que desde a década de 1960 ajudaram a moldar o transporte coletivo da capital baiana. A saída do Salvador Norte deixou um legado de fragilidade no planejamento da mobilidade urbana e expôs a dificuldade histórica de Salvador em estruturar um modelo de gestão sustentável para o transporte público.

Mais de quatro anos após sua extinção, os reflexos da queda do CSN ainda se fazem sentir: aumento da idade média da frota em circulação, desativação de linhas da região e um passageiro cada vez mais desconfiado da capacidade do sistema Integra de prestar um bom serviço.

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