Por Emerson Pereira – Foto Jefferson Peixoto
Apesar da crescente adesão ao uso de patinetes elétricos como alternativa de mobilidade sustentável em Salvador, uma parcela significativa dos usuários ainda insiste em desrespeitar as regras de circulação. A situação tem gerado reclamações frequentes de pedestres, motoristas e até de outros usuários do próprio sistema.
Dados da Secretaria de Mobilidade (Semob) revelam que, em apenas oito meses de operação, já foram registradas mais de 10 mil abordagens por uso inadequado do equipamento. Entre as irregularidades mais comuns estão a condução por duas pessoas ao mesmo tempo, a utilização por menores de idade e a circulação em locais de risco para pedestres. Mesmo com a intensificação das ações de fiscalização, muitos seguem infringindo as normas de forma deliberada.
“A grande maioria dos usuários faz o uso correto, mas temos registrado casos recorrentes de desrespeito às normas. Mais de 2 mil pessoas já foram banidas da plataforma por condutas inadequadas”, afirmou o secretário de Mobilidade, Pablo Souza.

O sistema, operado pela empresa JET em parceria com a Prefeitura, contabiliza mais de 132 mil usuários cadastrados e cerca de 431 mil viagens realizadas. Salvador dispõe hoje de 938 patinetes em operação. A redução de emissão de poluentes é um dos pontos positivos do serviço: estima-se que 260 toneladas de CO₂ deixaram de ser lançadas na atmosfera desde o início da operação.
Mas, enquanto a pauta ambiental e a inovação tecnológica são celebradas, a convivência nas ruas mostra-se um desafio. A circulação irregular de patinetes em calçadas movimentadas ou em vias de grande fluxo de veículos tem alimentado um debate cada vez mais presente: até que ponto a falta de consciência de parte dos usuários compromete os ganhos do serviço?
No último sábado (13), por exemplo, uma operação na orla da Boca do Rio flagrou três pessoas utilizando o equipamento em dupla, incluindo pais que dividiam os patinetes com seus filhos. “Nós entendemos que é um anseio das crianças, mas isso representa um mau exemplo e um risco evidente para a segurança”, pontuou o secretário.
Além da fiscalização, a empresa promove “escolinhas de condução” nos fins de semana, com o objetivo de conscientizar os usuários. Mais de 5,4 mil pessoas já foram capacitadas em 91 turmas desde o início do ano. Ainda assim, os índices de infração revelam que a simples oferta de informação não tem sido suficiente para inibir comportamentos de risco.
O Decreto nº 40.301/2025 estabelece regras claras: é proibido o uso por menores de 18 anos, bem como a condução compartilhada por mais de uma pessoa. A fiscalização diária, reforçada pela Guarda Civil Municipal, tenta conter excessos, mas o desafio maior parece estar na adesão cultural às normas.
No fim das contas, a experiência com os patinetes elétricos em Salvador revela uma contradição: de um lado, a inovação e o ganho ambiental; do outro, a resistência de parte dos usuários em cumprir regras básicas de convivência urbana. E, enquanto a fiscalização aperta, cresce também o incômodo de soteropolitanos que convivem com as imprudências cotidianas.