Carros de repasse: economia aparente pode esconder riscos jurídicos e mecânicos

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Com o aumento da procura por veículos mais baratos, muitos consumidores têm se deparado com anúncios de “carros de repasse” — uma expressão que, embora comum no mercado de usados, ainda gera dúvidas e pode esconder armadilhas. A promessa de economia imediata pode ser tentadora, mas é preciso entender o que está por trás desse tipo de negociação para evitar prejuízos futuros.

Foto: Shutterstock.

O carro de repasse é, essencialmente, um veículo vendido no estado em que se encontra, sem qualquer tipo de garantia sobre o funcionamento de componentes essenciais como motor, câmbio ou sistema elétrico. Diferente dos modelos oferecidos por concessionárias, que passam por revisões e reparos antes de serem colocados à venda, o carro de repasse é entregue ao comprador sem qualquer intervenção técnica — e, portanto, com todos os riscos associados.

Do ponto de vista legal, a venda sem garantia pode ser considerada irregular, dependendo do perfil do vendedor. Quando a negociação é feita com uma empresa, como uma loja de veículos, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) se aplica integralmente. O artigo 18 do CDC determina que o fornecedor é responsável por vícios ocultos que tornem o produto impróprio para uso ou que diminuam seu valor. Mesmo que o carro seja anunciado como “repasse”, a loja continua obrigada a oferecer suporte ao consumidor por até 90 dias após a compra. Caso o problema não seja resolvido em até 30 dias, o cliente pode exigir a troca do veículo, o abatimento proporcional do preço ou a devolução do valor pago.

Já nas negociações entre pessoas físicas, o cenário muda. O CDC não se aplica, e o comprador assume integralmente os riscos. Isso significa que, ao adquirir um carro de repasse de outro indivíduo, não há qualquer obrigação legal de garantia. Por isso, é fundamental que o comprador tenha conhecimento técnico ou conte com o apoio de um mecânico de confiança para avaliar o estado real do veículo antes de fechar negócio.

Apesar dos riscos, o carro de repasse pode ser uma boa oportunidade em situações específicas. Veículos com danos estéticos ou problemas mecânicos simples — como arranhões, peças plásticas quebradas ou necessidade de pintura — podem ser adquiridos por valores bem abaixo da tabela. Se os reparos forem de baixo custo e o comprador estiver disposto a investir tempo e dinheiro na recuperação, o negócio pode representar uma economia real.

Por outro lado, carros com falhas estruturais, pane elétrica ou problemas graves no motor podem transformar a aparente vantagem em um prejuízo considerável. A falta de garantia e a possibilidade de surpresas mecânicas tornam esse tipo de compra uma aposta arriscada, especialmente para quem não tem experiência no setor automotivo.

Em resumo, o carro de repasse exige cautela redobrada. Antes de tomar qualquer decisão, é essencial avaliar o preço, o estado geral do veículo, o custo estimado dos reparos e a segurança jurídica da transação. Quando feita com responsabilidade e conhecimento, a compra pode valer a pena. Mas sem esses cuidados, o que parecia uma oferta imperdível pode acabar se tornando um problema difícil de resolver.

Com informações do News Motor.

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