O avanço da eletrificação no setor automotivo já é tratado como uma tendência irreversível. E para ilustrar o impacto dessa mudança, uma comparação curiosa chama atenção: e se, desde o início, as geladeiras funcionassem por motores a combustão?

Foto: Adobe Stock.
A analogia revela o absurdo de imaginar eletrodomésticos operando com tanques, escapamentos e manutenção mecânica rotineira. Filtros e velas exigiriam troca periódica, correias falhariam em momentos inoportunos, e reabastecer combustível seria parte do cotidiano doméstico. A proposta, quase cômica, evidencia o que muitos ainda naturalizam no universo dos veículos urbanos.
Na contramão desse modelo antiquado, a eletrificação propõe uma ruptura: basta conectar à tomada e o motor elétrico funciona em silêncio. Os fabricantes falam em economia operacional de até 80%, enquanto especialistas destacam a queda nos poluentes domésticos e nos efeitos sobre a saúde de crianças e idosos. O ambiente — agora sem galões inflamáveis ou gases irritantes — torna-se mais seguro e menos sufocante.
Embora a resistência à mudança seja esperada, dados de seguradoras mostram que carros com motores a combustão têm 61 vezes mais risco de incêndio que modelos elétricos. A percepção pública, moldada por vídeos alarmistas nas redes, contrasta com os números reais. O risco sempre existiu; o novo apenas o revelou com clareza.
A eletrificação também impacta a estrutura produtiva e os perfis profissionais. Oficinas passam a trabalhar com softwares e placas eletrônicas, em vez de brunir cilindros e lidar com graxa. O trabalho técnico não desaparece — transforma-se, exigindo novas competências.
Com a expansão da infraestrutura de recarga, estudos apontam que a eletrificação poderá gerar milhares de empregos e reduzir custos logísticos, além de atenuar pressões sobre o sistema de saúde pública. O exemplo dos celulares — que abandonaram as fontes externas de combustível para depender apenas da rede elétrica — reforça o paralelo. Hoje, é impensável abastecer um telefone com etanol. Por que insistir nessa lógica para os automóveis?
No centro da discussão não estão geladeiras, nem carros, mas o modelo urbano que se deseja construir. O debate sobre combustão versus eletricidade é, na verdade, sobre o futuro das cidades, da economia e da saúde coletiva.
A metáfora, portanto, revela mais do que uma preferência tecnológica: traduz a urgência de escolhas conscientes em nome de um modelo sustentável e eficiente — seja para refrigerar alimentos ou mobilizar pessoas.
Com informações do Estadão Mobilidade.