A insatisfação com o transporte público na Região Metropolitana do Recife (RMR) atingiu patamares alarmantes. Segundo levantamento da Unifafire, 67,72% dos usuários estão insatisfeitos com o sistema atual, e 33,69% apontam que a qualidade piorou nos últimos dois anos. Entre os principais problemas estão a frota envelhecida, o sucateamento do metrô e os congestionamentos crescentes. Hoje, 42% dos ônibus estão acima da vida útil recomendada, reflexo direto da falta de investimentos contínuos. Como resultado, o sistema perdeu quase metade de seus passageiros em 12 anos, conforme dados da Urbana-PE.
“Tiraram os ônibus BRT de 21 metros para colocar ônibus toco, a marca registrada da incompetência generalizada do partido político do vice-presidente do Brasil”, criticou um usuário nas redes, resumindo o sentimento de muitos. O metrô, que já foi símbolo de eficiência, agora transporta apenas 5,62% da população da RMR. Com a proposta de concessão à iniciativa privada, com aporte do BNDES, surgem temores sobre possíveis aumentos tarifários e falta de garantias sobre melhorias reais no serviço.
A crise também impulsiona a migração para motos, mototáxis e transporte privado, alternativas que agravam os conflitos viários e aumentam o número de acidentes. Mesmo com o crescimento das ciclovias, a segurança dos ciclistas segue precária, impactada por infraestrutura deficitária e violência no trânsito.
Para o especialista em mobilidade Fabrizzio Muller, o problema é estrutural. “Recife sempre foi considerado um modelo metropolitano onde o Estado assume operação e custos do sistema. Era visto como um dos exemplos mais funcionais do país ou, pelo menos, um dos menos problemáticos. Acredito que o modelo de governança regional e a falta de foco na integração modal estão no centro da crise. Tudo precisa ser revisto com urgência, priorizando faixas exclusivas para ônibus, requalificação de terminais e políticas públicas de mobilidade ativa e acessível”, afirma.
Especialistas reforçam a necessidade de uma política metropolitana integrada, com foco no transporte coletivo, intermodalidade, ampliação da malha cicloviária e participação compartilhada entre municípios e estado. Sem isso, o colapso tende a se aprofundar.