Por Emerson Pereira – Foto Holanda Cavalcanti
O sistema de trens do Subúrbio de Salvador deixou de funcionar em 13 de fevereiro de 2021, encerrando uma operação centenária que ligava a Calçada a Paripe em cerca de 13 quilômetros, passando por 10 estações. Na época, o Governo do Estado anunciou a desativação como etapa necessária para a implantação de um novo sistema de transporte: o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que, na prática, tratava-se inicialmente de um projeto de monotrilho.
A previsão oficial era de que as obras durassem 24 meses, com conclusão prevista para 2023. No entanto, passados mais de três anos, o novo modal ainda não foi entregue e a área permanece em obras e abandono em vários trechos. Em 2024, o projeto foi reformulado: deixou de ser um monotrilho e passou a ser, de fato, um VLT, com três linhas planejadas e integração com o metrô na região de Águas Claras.
A nova previsão de entrega foi ampliada para 2028.
Durante esse intervalo, os cerca de 15 mil passageiros diários que utilizavam os trens ficaram sem uma alternativa de transporte equivalente. O serviço, apesar de defasado e operando com material rodante obsoleto, era barato, com tarifa simbólica, e atendia a regiões com acesso limitado a outros modais.
A desativação abrupta, sem solução transitória eficaz, resultou em um impacto direto na mobilidade do Subúrbio Ferroviário, uma das áreas mais populosas e socialmente vulneráveis da cidade.
Hoje, o antigo traçado dos trilhos permanece em parte tomado pelo mato e por obras em andamento. O projeto do VLT, reformulado e ampliado, prevê um novo corredor de mobilidade que, se concluído conforme prometido, deve representar um ganho de conectividade para a cidade. No entanto, o atraso nas obras e a indefinição em parte do processo levantam questionamentos sobre a condução da política pública de transporte e a priorização de investimentos estratégicos.
A história recente do transporte ferroviário de Salvador é marcada por transições mal explicadas, cronogramas descumpridos e uma população que segue aguardando uma resposta concreta. A expectativa é de que, desta vez, os trilhos apontem para um futuro mais funcional – e não apenas simbólico.