Como Curitiba driblou o metrô e criou um sistema de transporte que é exemplo para o mundo

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Por Emerson Pereira – Foto Divulgação

Desde a década de 1970, Curitiba, capital do Paraná, é reconhecida como uma referência em transporte público urbano. Muito antes da popularização do conceito de BRT (Bus Rapid Transit), a cidade já aplicava na prática um sistema de ônibus de alta capacidade, com planejamento integrado ao desenvolvimento urbano. O modelo curitibano, centrado em linhas troncais e alimentadoras, estações-tubo e veículos articulados e biarticulados, tornou-se uma vitrine internacional de mobilidade eficiente, mesmo com desafios que se acentuaram nos últimos anos.

O inicio de um modelo inovador

A transformação começou nos anos 1970, durante a gestão do então prefeito Jaime Lerner, arquiteto e urbanista. Em vez de priorizar obras viárias caras voltadas para os carros, como viadutos e túneis, Curitiba apostou na valorização do transporte coletivo. Surgia assim um novo conceito: a priorização do ônibus em vias exclusivas, com embarque rápido e integração física e tarifária.

Foi criada uma malha hierarquizada, com linhas troncais que percorrem os eixos estruturais da cidade — como a Avenida Sete de Setembro — operando com ônibus de grande porte, e linhas alimentadoras, que circulam nos bairros e levam os passageiros até os eixos principais. O sistema dispensava a necessidade de um metrô, oferecendo desempenho similar com custos muito inferiores.

Estaçōes-tubo: simplicidade e eficiência

Outro símbolo marcante do transporte curitibano são as estações-tubo, criadas nos anos 1990. De aparência simples — estruturas cilíndricas metálicas com cobertura transparente — elas proporcionam embarque em nível, agilizando o tempo de parada dos ônibus e permitindo pagamento antecipado. Essa solução, de baixo custo em comparação a terminais convencionais, tornou-se peça-chave na fluidez do sistema.

A cidade dos ônibus gigantes

Curitiba também se destacou pela introdução de ônibus articulados (com dois módulos) e, mais tarde, biarticulados (três módulos), pioneiros no mundo. Com capacidade para transportar até 270 passageiros, os biarticulados operam exclusivamente nas canaletas exclusivas dos eixos troncais, substituindo com eficiência os metrôs subterrâneos que muitas cidades sonham em construir.

Esses veículos fazem parte da frota da Rede Integrada de Transporte (RIT), que já chegou a transportar mais de 2 milhões de passageiros por dia em seu auge. Outra curiosidade é que Curitiba foi a primeira cidade brasileira a implantar um sistema com cobrança fora do ônibus, o que reduz drasticamente o tempo de embarque.

Um modelo globalmente replicado

O sucesso de Curitiba inspirou cidades de diversos países, como Bogotá (TransMilenio), Cidade do México, Los Angeles, Jakarta e até Guangzhou, na China. O termo “BRT” (Bus Rapid Transit) passou a ser usado para descrever esse tipo de solução, e Curitiba frequentemente é citada em estudos de urbanismo e mobilidade como um caso de sucesso.

Desafios atuais e legado urbano

Apesar do pioneirismo, o sistema de transporte curitano enfrenta desafios. A redução na demanda, a defasagem na renovação da frota e as críticas à qualidade do serviço evidenciam a necessidade de modernização e reequilíbrio econômico – mesmo Curitiba sendo uma das primeiras cidades brasileiras a subsidiar seu sistema. Ainda assim, o modelo curitibano, criado há mais de cinco décadas, permanece relevante.

O legado de Curitiba é mais do que um sistema de ônibus: é um projeto de cidade, que alia mobilidade, planejamento urbano e qualidade de vida. O princípio central — priorizar o transporte coletivo de forma racional e acessível — permanece como um dos maiores ensinamentos que Curitiba oferece ao Brasil e ao mundo.

Mesmo diante dos novos desafios urbanos, Curitiba mantém uma posição de destaque na história da mobilidade urbana e do transporte público. O seu sistema de transporte coletivo é mais do que uma solução logística: é um símbolo de ousadia e planejamento a serviço das pessoas.

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