Prático e Perigoso: Popularização dos apps de moto vem acompanhada de mais acidentes em Salvador

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Por Emerson Pereira – Foto Jefferson Peixoto/PMS

Rápido, barato e prático. O transporte por aplicativo via motocicleta se tornou uma escolha frequente nas ruas de Salvador, especialmente entre quem busca escapar dos congestionamentos e da superlotação do transporte público. Mas por trás da praticidade oferecida por esse tipo de serviço, emerge um dado preocupante: a escalada nos acidentes de trânsito envolvendo motociclistas.

De acordo com o Relatório Preliminar de Vítimas no Trânsito de 2024, Salvador registrou 4.720 pessoas feridas e 147 mortes no trânsito. Os motociclistas foram os mais atingidos, concentrando quase 90% dos óbitos — um dado que escancara a vulnerabilidade dos condutores de moto na capital baiana. O número de mortes entre ocupantes de motocicletas cresceu 14% em comparação com 2023. Entre os pedestres, o salto foi ainda mais alarmante: 56%.

A popularização dos aplicativos de transporte por moto coincide com esse cenário. Embora ofereçam conveniência, a realidade nas ruas levanta uma pergunta urgente: quais riscos estão sendo ignorados em troca da agilidade?

Pressa, Pressão e Perigo: a Fórmula por Trás dos Números

O modelo de trabalho adotado pelas plataformas — baseado em metas e liberdade de horário — acaba empurrando os motociclistas para jornadas intensas e, muitas vezes, exaustivas. A lógica é simples: quanto mais corridas, maior o rendimento. Mas essa corrida por produtividade cobra um preço alto.

No dia a dia, é comum encontrar condutores realizando ultrapassagens arriscadas, furando sinais vermelhos ou consultando o celular enquanto pilotam. A necessidade de gerenciar corridas, responder solicitações e chegar rápido ao destino transforma a pilotagem em um exercício constante de risco.

Além disso, a segurança costuma ser negligenciada. Mesmo com a obrigatoriedade do uso de capacete, muitos motociclistas utilizam equipamentos sem certificação ou já desgastados. Passageiros, por sua vez, muitas vezes recebem capacetes em condições precárias ou simplesmente não usam nenhum tipo de proteção.

Custo Humano e Impacto Público

O reflexo dessa insegurança vai além das estatísticas. O sistema de saúde pública sente os efeitos: as emergências dos hospitais vivem sobrecarregadas com vítimas de acidentes, muitas delas com traumas graves e internações prolongadas. Isso representa um custo crescente para os cofres públicos e para as famílias dos acidentados, que frequentemente ficam impedidas de trabalhar.

A mobilidade urbana também sofre. Pedestres e motoristas convivem diariamente com manobras perigosas, disputas de espaço e situações de risco que poderiam ser evitadas com uma condução mais responsável — e com infraestrutura adequada.

Caminhos Possíveis para Mudar o Cenário

Algumas iniciativas começam a surgir. Salvador implantou, ainda em caráter experimental, sua primeira motofaixa na Avenida Bonocô — medida que busca reduzir conflitos entre motos e demais veículos. A prefeitura estuda expandir o projeto para outras vias de grande circulação.

Mas especialistas alertam que ações pontuais não bastam. É preciso investir em estratégias integradas, que envolvam:

  • Campanhas educativas permanentes, que alertem sobre os riscos e promovam uma cultura de segurança no trânsito;
  • Fiscalização mais rigorosa, especialmente quanto ao uso de equipamentos adequados, respeito à sinalização e velocidade;
  • Comprometimento das plataformas, com a implementação de mecanismos que incentivem pausas, limitem jornadas excessivas e exijam condições mínimas de segurança.

Agilidade Não Pode Custar Vidas

Enquanto essas medidas não ganham escala, cabe também a usuários e motociclistas redobrarem a atenção. A rapidez, que é o maior atrativo dessa modalidade, não pode continuar sendo um fator de alto risco.

O transporte por aplicativo via moto já faz parte do cotidiano das cidades brasileiras, e especialmente de Salvador. Mas seu crescimento não pode seguir descolado da responsabilidade e da ação pública. Em uma capital onde quase 9 em cada 10 mortes no trânsito envolvem motociclistas, a segurança sobre duas rodas não é mais opcional — é uma emergência.

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