Por Emerson Pereira – Foto Montagem
A mobilidade urbana em Salvador vive um dilema. De um lado, um sistema integrado entre ônibus, BRT e metrô que cobre amplas áreas da cidade. De outro, cresce silenciosamente a preferência dos usuários por alternativas como os aplicativos de carro e, especialmente, de moto — uma escolha que tem ganhado força mesmo diante da tarifa de R$ 5,60 e dos riscos de segurança viária.
A conta, para muitos usuários, simplesmente não fecha. Em deslocamentos curtos, por exemplo, o custo de uma corrida de moto por aplicativo pode sair mais em conta que a passagem de ônibus. A isso se soma a vantagem da agilidade e da conveniência porta a porta, fatores cada vez mais valorizados no dia a dia corrido da população.
Uma escolha que vai além do preço
O uso crescente das motos por aplicativo revela um padrão de comportamento que não pode ser ignorado. O passageiro busca menos espera, mais previsibilidade e uma experiência de deslocamento mais confortável. Em contraste, o transporte por ônibus segue enfrentando críticas recorrentes: longos intervalos, superlotação, veículos em mau estado e a sensação constante de insegurança.
Esse cenário contribui para a evasão de passageiros — uma realidade que atinge o transporte público em todo o país. A queda na demanda resulta em prejuízos para as empresas operadoras, que, mesmo diante da redução da receita, continuam arcando com altos custos operacionais.
Um desafio que não é só de Salvador
Em São Paulo, a prefeitura chegou a proibir oficialmente o transporte de passageiros por motocicleta via aplicativos, em meio a um embate jurídico com as plataformas. A ação, motivada por preocupações com acidentes e segurança viária, mostra que o avanço das motos por app não é uma questão pontual, mas um novo ator no debate sobre mobilidade urbana nas grandes cidades.
Reverter a evasão exige mais que integração
Apesar da infraestrutura integrada entre ônibus, metrô e o BRT em Salvador, só isso não basta. Para conquistar a preferência do passageiro, é preciso melhorar a frequência, a eficiência das linhas, a qualidade da frota, a limpeza, a acessibilidade e a segurança. Ouvir as necessidades reais da população e adaptar o serviço ao cotidiano das pessoas é o caminho para tornar o transporte público novamente uma escolha — e não a última opção.
O desafio está posto: ou o transporte público se reinventa, ou continuará perdendo espaço para soluções mais ágeis, mesmo que mais arriscadas.