Por Emerson Pereira – Foto Acervo do ônibus da Bahia
Durante muito tempo, o nome “Grande Circular” fez parte do dia a dia de quem dependia do transporte público em Salvador. Criado com a proposta de facilitar o deslocamento entre diferentes regiões da cidade, o sistema operava a partir da Estação Rodoviária e funcionava como uma grande rede de integração — muito antes da implantação do sistema integrado que conhecemos hoje.
A lógica era simples, mas eficiente para a época: pequenas linhas alimentadoras levavam os passageiros de seus bairros até a Rodoviária, onde era possível embarcar em uma das duas linhas principais, chamadas de Grande Circular 1 (GC1) e Grande Circular 2 (GC2). A GC1 seguia em direção ao Campo Grande passando por bairros como Itaigara, Orla e Barra. Já a GC2 fazia o caminho oposto, indo pela San Martin, Calçada e Comércio. Juntas, as duas linhas formavam um verdadeiro anel de conexão entre as zonas da cidade.

Além da função estratégica, o Grande Circular também tinha uma identidade visual marcante: os ônibus pintados em tons de rosa chamavam atenção nas ruas e deixavam claro que se tratava de um sistema diferenciado. Até o fim dos anos 90, essa padronização dava ao GC uma cara própria, quase como se fosse um “sistema dentro do sistema”.
Mas, como tudo evolui, o transporte de Salvador também passou por mudanças profundas. Com o avanço da integração tarifária, a criação dos terminais de transbordo e a chegada de tecnologias como o bilhete único, o papel do Grande Circular foi sendo pouco a pouco reduzido. A frota perdeu a padronização, o nome foi desaparecendo dos letreiros e, eventualmente, as linhas GC1 e GC2 foram substituídas por versões convencionais, que hoje atendem pelos códigos 0339 e 0341 — ainda com saídas da Rodoviária, mas agora inseridas na malha integrada da cidade.

Hoje, o passageiro soteropolitano pode cruzar a cidade usando ônibus, metrô e até o BRT pagando apenas uma tarifa, algo impensável quando o Grande Circular foi criado. Ainda assim, é impossível não reconhecer o papel que esse sistema teve como precursor da mobilidade integrada que temos agora. Ele ajudou a conectar bairros distantes, a organizar os fluxos e, acima de tudo, a mostrar que o transporte público pode ser planejado de forma a facilitar a vida de quem depende dele todos os dias.
O Grande Circular saiu de cena, mas deixou um legado importante. Seu traçado, sua lógica de funcionamento e até a memória afetiva dos ônibus rosa ainda estão vivos na história da cidade — e ajudam a contar como Salvador foi se moldando até chegar ao sistema mais moderno e conectado que temos hoje.