Por Emerson Pereira – Foto Shirley Stolze/AG A Tarde
O Subsistema de Transporte Especial Complementar (STEC), mais conhecido entre os soteropolitanos como os “amarelinhos” ou “Topic’s”, vive atualmente uma crise silenciosa. Regulamentado em 1997 para atender áreas de menor cobertura do transporte coletivo convencional, o sistema que já foi sinônimo de agilidade e presença comunitária, hoje enfrenta sérios desafios estruturais, financeiros e operacionais.
Frota envelhecida e falta de renovação
A última grande renovação da frota do STEC aconteceu há mais de uma década, em 2014. Desde então, a maioria dos micrões que circulam pelas ruas da capital apresenta sinais claros de desgaste. Passageiros e operadores relatam que a manutenção tem sido feita “no limite”, o que compromete o conforto e, em alguns casos, até a segurança dos usuários. Enquanto o transporte convencional passou por atualizações significativas, como a introdução de ônibus climatizados, o STEC parece ter ficado estagnado no tempo.
Competição com o sistema Integra
Originalmente pensado como um sistema complementar ao transporte convencional, o STEC operava em áreas de menor demanda e difícil acesso. No entanto, nos últimos anos, muitas das linhas do subsistema foram desativadas e passaram a competir diretamente com rotas do sistema Integra. Essa sobreposição de trajetos tem gerado conflitos operacionais, dividido o público e reduzido a arrecadação dos permissionários – justamente os pequenos empresários que mantêm o STEC em funcionamento.
Pequenos frotistas em crise
A espinha dorsal do STEC é composta por pequenos frotistas, permissionários que possuem um ou dois veículos e operam com recursos próprios. Com a redução do número de passageiros nas principais linhas, a receita caiu drasticamente, tornando inviável a manutenção de veículos ou a aquisição de novos veículos.
Sem acesso facilitado a linhas de crédito ou incentivos, muitos desses permissionários estão colocando seus veículos e alvarás à venda em sites de classificados, tentando sair de um setor cada vez menos rentável.
Na tentativa de reduzir os custos operacionais, o sistema passou por ajustes: os cobradores foram eliminados e, mais recentemente, alguns operadores passaram a adquirir micro-ônibus menores e usados, que, embora menos confortáveis, consomem menos combustível e têm manutenção mais barata.
Um sistema que pede socorro
O momento atual do STEC exige mais do que paliativos: é preciso uma reformulação profunda – conceitual, financeira e estrutural. Para garantir a sobrevivência e a relevância do subsistema, especialistas e operadores apontam algumas medidas urgentes:
Licitação e reestruturação do serviço pela Prefeitura de Salvador, com definição de regras claras e previsibilidade para os permissionários.
Criação de novas linhas que estejam alinhadas ao papel complementar do STEC, evitando a concorrência direta com o Integra.
Novos modelos de integração tarifária entre linhas do STEC, que garantam maior atratividade para o passageiro e retorno financeiro para os operadores.
Apoio técnico e linhas de financiamento acessíveis para frotistas investirem em veículos mais modernos, acessíveis e sustentáveis.
Um serviço essencial para Salvador
Apesar dos problemas, o STEC segue sendo um serviço essencial para milhares de pessoas, sobretudo nas periferias da cidade, onde são popularmente chamados de Topic´s. A capilaridade e a agilidade dos “amarelinhos” ainda fazem a diferença em trajetos onde o transporte convencional não atende com tanta eficiência.
Reformar o STEC não é apenas uma questão de mobilidade, mas de justiça social. É hora de olhar com seriedade para um sistema que, mesmo esquecido, segue movendo Salvador todos os dias.
ATUALIZAÇÃO – Após a publicação da matéria, o Secretário de Mobilidade de Salvador entrou em contato com nossa redação e informou que solicitou a aquisição de 180 novos ônibus para o STEC por meio do Novo PAC do Governo Federal. Segundo o titular da Semob, esses veículos modernos trarão uma renovação completa ao subsistema complementar.
Pablo Souza também destacou que a Prefeitura não pretende encerrar esse serviço essencial para a cidade. Pelo contrário, está em busca de recursos para viabilizar a entrega de ônibus novos, zero quilômetro e equipados com ar-condicionado.
[…] recente matéria do SóMob sobre os desafios enfrentados pelo Subsistema de Transporte Especial Complementar (STEC) em Salvador gerou importante repercussão e resposta rápida da gestão municipal. Em contato com […]