Demissão em massa na Nissan acende alerta sobre mobilidade e instabilidade no setor automotivo global

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Foto: Divulgação Nissan

A Nissan, uma das maiores montadoras de veículos do mundo, anunciou nessa segunda-feira (12) a demissão de cerca de 20 mil trabalhadores, o dobro do que havia sido sinalizado no fim do ano passado. A medida ocorre em meio a uma das maiores crises já enfrentadas pela fabricante japonesa, e levanta preocupações não apenas sobre os rumos da indústria automotiva, mas também sobre possíveis impactos para consumidores e a mobilidade urbana e rodoviária em escala global.

De acordo com a empresa, a decisão é parte de uma ampla reestruturação, provocada pela queda de 94% no lucro líquido no último ano fiscal, encerrado em março de 2025. Os mercados dos Estados Unidos e da China, dois dos principais destinos de exportação da montadora, registraram queda acentuada nas vendas. O prejuízo estimado pode chegar a US$ 5 bilhões, valor que reforça o cenário de retração e incerteza.

A nova rodada de demissões representa cerca de 15% da força de trabalho global da Nissan e afeta 20% de sua capacidade de produção, comprometendo a presença da marca em vários mercados estratégicos. Analistas alertam que a crise da empresa não é um caso isolado, mas um reflexo das tensões do mercado global, marcado por aumento nos custos logísticos, instabilidade cambial, transição energética e desafios na cadeia de suprimentos.

Impactos na mobilidade

O recuo de uma montadora do porte da Nissan pode ter efeitos em cadeia na oferta de veículos, especialmente em segmentos populares ou voltados à mobilidade urbana e rural em países emergentes. A redução da produção tende a gerar encarecimento de modelos zero quilômetro e diminuição da concorrência, o que pode afetar diretamente o consumidor final, com menos opções e preços menos acessíveis.

Além disso, os reflexos se estendem a setores como financiamento, revenda, manutenção automotiva e até transporte por aplicativo, que dependem diretamente da renovação da frota para se manterem competitivos e eficientes. Com o encarecimento de veículos novos, cresce a pressão sobre o mercado de seminovos e usados, o que já vem sendo observado em diversas regiões, inclusive no Brasil.

Fusão frustrada e sinais do mercado

Nem mesmo a tentativa de fusão com outra gigante japonesa, a Honda, foi suficiente para reverter o cenário. As negociações entre as duas empresas foram encerradas após divergências em torno da proposta de um subsídio integral, sinalizando que até os grandes players encontram barreiras na busca por soluções conjuntas.

A crise da Nissan soma-se ao momento de transição enfrentado pela indústria automobilística, pressionada por metas ambientais, mudanças no comportamento do consumidor e a ascensão de veículos elétricos e tecnologias autônomas. Empresas que não conseguem se adaptar com agilidade a essa nova realidade tendem a perder espaço rapidamente.

Brasil e o cenário interno

Embora a Nissan mantenha operação no Brasil, os efeitos da crise global podem atingir o país indiretamente, seja por meio de ajustes no volume de produção local, aumento de preços, ou retardos no lançamento de novos modelos. Em um contexto de mobilidade urbana precária e alta dependência do transporte individual, qualquer retração no setor automotivo tende a acentuar desigualdades no acesso ao deslocamento.

O episódio reforça a necessidade de diversificação e planejamento de políticas públicas para a mobilidade, incluindo incentivos a veículos sustentáveis, transporte coletivo de qualidade e alternativas acessíveis à população, para que o país não fique refém das crises do mercado internacional.

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