Transição Energética

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Por Grace Gomes, Superintendente de Mobilidade do Estado da Bahia

Muito tem-se falado de transição energética nos últimos tempos. Mas o que isso significa e qual sua relação com o setor de mobilidade?

A transição energética refere-se à mudança global do sistema energético, passando de fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis para alternativas mais limpas e renováveis. Essa necessidade de mudança pode ocorrer por diversas razões, como a escassez de um recurso energético ou o aparecimento de tecnologias mais eficientes. Na situação atual global, esse processo tem a emergência climática como principal impulso motivador.

Os indicativos dos estudos e fóruns sobre o assunto mostram que é imperativa a transformação da produção e consumo de energia com menor emissão de gases de efeito estufa (GEE). Essa transformação traz uma série de desafios para o setor elétrico, tanto na oferta quanto na demanda, que vão desde a expansão das fontes renováveis de geração de energia, ao uso maior de combustíveis com menor emissão de GEE.

A matriz elétrica do Brasil já é renovável e baseada em fonte com baixa emissão de GEE. O país se destaca no cenário internacional devido ao seu grande potencial para geração de energia hidrelétrica, eólica e solar, e assumiu um compromisso com a transição energética mundial, buscando alcançar a neutralidade de emissões de carbono até 2050. No entanto, essa transição requer uma profunda transformação da infraestrutura e do uso da energia em diversos setores e atividades, e representa uma reformulação do nosso modelo de desenvolvimento.

Do ponto de vista da oferta, o desafio é a utilização de novas tecnologias, como geração renovável, armazenamento de energia e redes inteligentes, o que inclui novos mecanismos de planejamento e operação, para lidar com possíveis problemas como a intermitência das fontes renováveis e as incertezas climática.

Com relação à demanda, o consumo de energia elétrica vem crescendo a cada ano, estimulado inclusive pela própria implementação da transição energética, com o aumento da eletrificação dos setores da indústria e transportes, o que exige o planejamento e operação da oferta programados de forma bem racional, para o sucesso das metas estabelecidas.

O Governo Federal, em prol de cumprir a meta de alcançar a neutralidade de emissões de carbono até 2050, tem estimulado o surgimento de projetos e ações para ampliação da eletrificação de processos industriais e na mobilidade urbana.

O setor de transportes e os processos industriais no Brasil são responsáveis hoje por 65% de todo o consumo de energia no país, segundo o Ministério de Minas e Energia – MME. Para o MME, unir esses segmentos de consumo com o segmento de geração de eletricidade renovável oferece um enorme potencial de descarbonização para o Brasil e pode transformá-lo em uma das economias mais verdes e competitivas do mundo.

Portanto, repensar a mobilidade no país é considerado como um passo necessário para o processo de descarbonização e melhoria socioambiental. Repensar a mobilidade abre um leque de assuntos a serem analisados, como transportes de passageiros e cargas; planejamento da malha rodoviária e ferroviária do país; planejamento das cidades para maior inclusão de redes de transportes públicos e da mobilidade ativa que sejam racionais, integradas e estimulem menor consumo de combustível; investimento na infraestrutura necessária para a transição da matriz energética dos transportes; além das inovações tecnológicas em veículos de menor consumo de energia e sua infraestrutura de recargas.

As soluções imediatas apresentadas pelo Governo Federal na questão da mobilidade que envolvem a eletrificação dos transportes urbanos, falam no estímulo à implantação e consolidação dos sistemas sobre trilhos (Metrôs e VLT’s), e na aquisição de veículos elétricos. O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC apresentou dois eixos referentes à mobilidade urbana: programa de desenvolvimento do transporte público de alta e média capacidade como BRTs, VLT’s, Trens Urbanos e Metrôs e corredores de ônibus, terminais, ciclovias e ciclofaixas; e programa de renovação de frota, que envolve ônibus elétricos e Euro 6, e veículos sobre trilhos.

Segundo o Ministério das Cidades, com o programa de renovação de frota, o Brasil tem o potencial de atingir a maior frota de ônibus elétricos da sua história e assumir uma importante posição no cenário da eletromobilidade mundial. Com a construção e ampliação dos corredores de transporte público, os novos investimentos irão reduzir o tempo de deslocamento e a emissão de poluentes, atendendo os grandes centros urbanos e regiões periféricas com população de baixa renda.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reconhece que o investimento em mobilidade e logística caiu nos últimos anos, mas que agora é prioridade. O objetivo primeiro do Banco é eletrificar as frotas de ônibus, e ressalta que, apesar do investimento num ônibus elétrico ser maior, o custo de manutenção é menor. E o programa de financiamento vindo do PAC facilitará sobremaneira a aquisição dos veículos.

Dentro dessa perspectiva de mudança da matriz energética nos transportes públicos urbanos, na Região Metropolitana de Salvador, o Governo do Estado está ampliando o sistema metroviário até o Campo Grande e adquirindo 10 novos trens para esse sistema, e construindo 37 km do VLT de Salvador, incluindo a compra de 40 veículos para frota que irá operar o sistema. Com relação aos ônibus elétricos, o Estado deverá implantar, no início de 2026, a nova rede de transporte metropolitano por ônibus, com mais da metade dos veículos já eletrificados, e o município de Salvador continua ampliando seu sistema de BRT, com a aquisição de mais ônibus elétricos também. Isso mostra que a Bahia está alinhada com as diretrizes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e do Brasil.

O Governo do Estado tem anunciado que essas ações fazem parte da estratégia do setor mobilidade para substituição gradativa da matriz energética dos modos de transporte coletivo. Junto com esse processo de descarbonização do sistema de transporte coletivo da RMS, está buscando a qualificação das condições de acessibilidade no entorno dos equipamentos do sistema de transporte, ampliando a infraestrutura de circulação para aos modos ativos (pedestres e ciclistas), associada aos sistemas estruturantes de transporte coletivo da RMS.

Esse assunto não se esgota aqui. Vários outros aspectos ainda podem ser abordados, interessantes de serem debatidos, especialmente sobre os desafios e pontos de atenção na efetivação da transição energética na mobilidade, no Brasil e na Bahia. Fica para uma outra vez.

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