Vice-presidente da Federação Baiana de Ciclismo, Henrique Marinho conhece de perto os desafios enfrentados por quem pedala em Salvador — seja por esporte, lazer ou necessidade. Ex-atleta e defensor ativo da causa ciclística, Henrique vem contribuindo com propostas para melhorar a infraestrutura da cidade, buscando mais segurança e respeito aos ciclistas.
Salvador, uma capital histórica e de urbanismo complexo, ainda engatinha quando o assunto é mobilidade por bicicleta. Embora conte com cerca de 300 km de vias cicláveis, muitas delas apresentam problemas como má conservação, uso indevido por pedestres e outros modais, além da insegurança em algumas regiões.
Em entrevista ao SóMob, Henrique detalha os principais obstáculos enfrentados por diferentes perfis de ciclistas, comenta regiões críticas da cidade e apresenta propostas da Federação para fortalecer a malha cicloviária, incluindo a ampliação de faixas de treino regulamentadas e ações educativas para melhorar a convivência no trânsito.
Repórter SóMob: Quais são os principais desafios enfrentados pelos ciclistas hoje em Salvador?
Henrique Marinho: Existem diferentes tipos de ciclistas: os de competição, os que usam a bicicleta como meio de transporte e os que pedalam por lazer. Para quem utiliza a bicicleta como transporte ou lazer nas ciclofaixas, o maior desafio é a falta de respeito aos espaços predefinidos. É comum ver pessoas caminhando nas ciclofaixas sem atenção ao trânsito, desrespeitando o espaço exclusivo para ciclistas, o que pode causar acidentes.
RS: Há outros elementos que dificultam o uso das ciclofaixas?
HM: Além disso, há o uso desordenado de patinetes nesses espaços, gerando ainda mais confusão e aumentando o risco de colisões. Não há uma orientação clara ou sinalização eficiente para organizar o fluxo de pedestres, ciclistas e outros modais. Cada um circula de forma aleatória, sem respeitar o lado certo da via, o que agrava a insegurança.
RS: E no caso dos ciclistas de competição, quais são os principais desafios?
HM: Para os ciclistas de competição, que pedalam com maior velocidade, seja por esporte ou bem-estar, o problema principal também é cultural: o desrespeito às leis de trânsito, especialmente por parte dos condutores de veículos.
RS: Ainda há muito a melhorar?
HM: Apesar disso, é importante reconhecer que essa relação tem melhorado bastante nos últimos 15 ou 20 anos. Isso se deve, em parte, às campanhas de educação promovidas pela prefeitura, inclusive nas empresas de ônibus. Ainda assim, seria benéfico intensificar essas ações, com mais divulgação e campanhas voltadas à conscientização. No trânsito, todos somos seres humanos: pais, filhos, trabalhadores.
RS: Algum ponto específico que mereça atenção?
HM: Outro ponto crítico é a conservação das vias. Para o ciclista, um dos maiores inimigos é a Embasa. Após obras e reparos, os buracos abertos raramente são fechados adequadamente, deixando a pista em condições perigosas para quem pedala.
RS: Há alguma região da cidade que o senhor considera mais crítica para a circulação de ciclistas?
HM: Sim. A região mais crítica é a Barra. Por ser uma área turística, com grande fluxo diário de pessoas na orla, a ciclovia é frequentemente invadida por pedestres. Como a cidade é antiga e não houve um planejamento urbano adequado, a convivência entre ciclistas, corredores e caminhantes torna-se arriscada, especialmente porque há velocidades diferentes entre eles. Colisões frontais, por exemplo, podem resultar em acidentes graves.
RS: Além da Barra, há outras áreas com problemas?
HM: Outro trecho preocupante, por questão de segurança, é entre o Jardim de Alah e Patamares, nas proximidades do antigo Aeroclube e da Boca do Rio. A incidência de assaltos nessa área torna o…