Vale-Transporte mudou a relação entre salário, trabalho e transporte há 40 anos

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Por Emerson Pereira – Foto Cedoc/TV Bahia

Instituído em 16 de dezembro de 1985, por meio da Lei nº 7.418, o Vale-Transporte completa 40 anos como uma das políticas públicas mais relevantes para a mobilidade urbana e para a proteção da renda do⁹ trabalhador brasileiro. Ao longo dessas quatro décadas, o benefício não apenas garantiu o deslocamento diário de milhões de pessoas, como também produziu efeitos diretos na economia das cidades — especialmente em capitais como Salvador.

Antes da criação do Vale-Transporte, o custo do deslocamento casa–trabalho recaía integralmente sobre o trabalhador. Levantamentos históricos indicam que, em muitos casos, até 30% do salário mensal era consumido pelo pagamento das passagens no transporte coletivo. Com a nova legislação, esse comprometimento foi limitado a até 6% da remuneração, transferindo para o empregador a responsabilidade pelo custeio do excedente. A medida representou um avanço significativo em termos de justiça social e acesso ao emprego formal.

Em Salvador, o impacto do Vale-Transporte extrapolou o sistema de transporte e passou a influenciar diretamente a dinâmica econômica dos bairros. Durante muitos anos, os bilhetes físicos do vale circularam como uma espécie de “moeda paralela”. Mercados, mercearias e pequenos comércios aceitavam o vale como forma de pagamento por mercadorias, sobretudo em áreas populares, onde o acesso ao dinheiro em espécie era mais restrito. Esse fenômeno informal evidencia o grau de capilaridade do benefício e sua importância no cotidiano da população trabalhadora da capital baiana.

Ao mesmo tempo, o Vale-Transporte contribuiu para a consolidação do transporte coletivo como eixo estruturante da mobilidade urbana. Ao garantir demanda regular e previsível, o benefício ajudou a sustentar financeiramente o sistema, influenciando o planejamento operacional das empresas e o desenho das redes de ônibus ao longo das décadas.

Com o avanço da tecnologia e a modernização dos sistemas de arrecadação, o Vale-Transporte passou por transformações importantes. A bilhetagem eletrônica substituiu gradualmente os antigos bilhetes em papel, reduzindo fraudes, ampliando o controle e integrando o benefício aos cartões eletrônicos utilizados no transporte público. Em Salvador, essa transição acompanhou a implantação dos sistemas de integração tarifária e a digitalização dos meios de pagamento, alterando também aquela dinâmica informal de circulação do vale no comércio local.

Quatro décadas após sua criação, o Vale-Transporte segue sendo um instrumento central para garantir o direito à cidade, ao trabalho e à mobilidade. Em um cenário marcado por crises no financiamento do transporte público, debates sobre subsídios e queda de demanda, a história do Vale-Transporte reforça a importância de políticas que reconheçam o deslocamento diário como parte essencial da vida urbana e da economia das cidades.

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