A indústria automobilística brasileira vive um momento de tensão e transformação. Recentemente, a montadora chinesa BYD solicitou ao governo federal a manutenção das tarifas reduzidas para a importação de veículos desmontados, nos regimes SKD (Semi-Knocked Down) e CKD (Completely Knocked Down). Essa proposta despertou controvérsia entre as principais fabricantes já instaladas no país, como Volkswagen, Toyota, GM e Stellantis, que alertam para os riscos de desindustrialização e perda de empregos.

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Para entender esse impasse, é preciso conhecer como funcionam os regimes SKD e CKD. No sistema SKD, o veículo chega parcialmente montado — geralmente com a carroceria pintada — e recebe os ajustes finais em território nacional. Já o regime CKD é ainda mais abrangente: o carro vem completamente desmontado, como um kit de peças, e é montado integralmente por aqui. Ambos os regimes possuem alíquotas tributárias reduzidas, e por isso são amplamente utilizados por montadoras que estão em processo de instalação ou expansão no país.
O pedido da BYD ao governo do presidente Lula visa acelerar a produção em sua recém-inaugurada fábrica em Camaçari, na Bahia, sem que seja necessário investir imediatamente em uma estrutura completa de produção. A empresa defende que, ao manter os impostos baixos — 10% para SKD e 5% para CKD — até 2028, será possível garantir competitividade e fomentar a produção local gradualmente.
Contudo, essa proposta não agradou as fabricantes já consolidadas no Brasil. Elas argumentam que a montagem simplificada por meio de kits importados representa uma concorrência desleal, pois essas empresas operam com plantas industriais completas e pagam tributos mais altos, além de serem responsáveis por uma complexa cadeia de produção que envolve fornecedores locais e milhares de trabalhadores. Segundo essas montadoras, caso o pleito da BYD seja atendido, até 70% dos empregos indiretos na indústria podem ser afetados, bem como os investimentos de R$ 180 bilhões já previstos até 2030, sendo R$ 130 bilhões em novos produtos e R$ 50 bilhões em fornecedores e peças.
A questão central do debate está na busca por equilíbrio entre incentivar a chegada de novas fabricantes — especialmente as voltadas à produção de veículos elétricos — e proteger a indústria nacional. Para críticos da medida, a importação de carros desmontados é uma estratégia transitória que não garante o desenvolvimento pleno da cadeia produtiva brasileira. Por outro lado, defensores acreditam que essa flexibilização pode tornar o Brasil mais atraente para investimentos estrangeiros e acelerar a inovação no setor automotivo.
Em resumo, o futuro da montagem de veículos no Brasil está em jogo. As decisões tomadas nos próximos meses serão decisivas para determinar se o país seguirá fortalecendo sua indústria automotiva com produção nacional robusta, ou se adotará uma política de transição tecnológica mais permissiva, com efeitos imprevisíveis sobre emprego, competitividade e desenvolvimento industrial.
Com informações do Garagem 360.