Por Emerson Pereira – Foto Thiago Pacheco
Camaçari, uma das cidades mais ricas da Bahia, com forte presença industrial e arrecadação bilionária, convive há pelo menos 15 anos com um sistema de transporte público precário, marcado por descontinuidade, má gestão e ausência de planejamento duradouro. Agora, sob forte pressão popular e institucional, a prefeitura anunciou que o serviço será restabelecido até o dia 20 de junho de 2025 — mais uma vez por meio de um contrato emergencial.
A nova operação será feita pela empresa Atlântico Transportes, contratada pelo valor de R$ 13,3 milhões para um período inicial de 180 dias, com possibilidade de prorrogação. A frota prevista é de 45 ônibus, que atenderão 28 linhas nas regiões da sede, orla e zona rural. Segundo a Superintendência de Trânsito e Transporte, os veículos terão ar-condicionado, Wi-Fi e acessibilidade, além de uma tarifa fixada em R$ 5 para os deslocamentos dentro da sede.
O anúncio foi formalizado nesta sexta-feira (30), em evento na Secretaria de Governo, com a presença do prefeito Luiz Caetano e do superintendente Edmilson Sousa. O cronograma prevê o início das operações antes do Camaforró, principal festa junina do município. “Até o dia 20, queremos ônibus circulando em cada canto de Camaçari”, declarou o prefeito, que tenta agora reverter o histórico de abandono do setor.
Crise histórica e falta de soluções definitivas
O transporte público em Camaçari é um problema crônico. Ao longo de pelo menos uma década e meia, a população conviveu com a instabilidade das empresas operadoras, ausência de licitações válidas, sucateamento da frota, e longos períodos sem ônibus circulando. Apesar da robusta arrecadação oriunda do Polo Petroquímico e da indústria automobilística, a mobilidade urbana nunca foi tratada com a prioridade devida.
O atual contrato com a Atlântico Transportes representa mais uma solução paliativa, enquanto a administração municipal afirma estar finalizando um processo licitatório para concessão definitiva do sistema. O histórico recente, no entanto, levanta dúvidas: licitações anteriores foram suspensas, anuladas ou contestadas judicialmente. A mais recente tentativa, que previa a operação por duas empresas (Safira e DZSET), não avançou à fase de implementação.
Pressão e desconfiança
A retomada do serviço é vista com cautela por especialistas e pela população, que já testemunhou diversas promessas não cumpridas nesse setor. A urgência com que o contrato emergencial foi firmado também levanta questões sobre transparência, sustentabilidade financeira e viabilidade operacional em uma cidade com zonas urbanas e rurais tão distintas.
O desafio de Camaçari não é apenas colocar ônibus nas ruas, mas garantir que eles operem com regularidade, conforto, segurança e integração, além de ampliar o debate sobre um plano de mobilidade moderno, conectado às demandas sociais e ambientais. A retomada anunciada pode ser um ponto de virada — ou apenas mais um episódio num ciclo vicioso de improvisos.